sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Timidez



Antídoto contra a timidez


O senso comum prega que, uma vez tímido sempre tímido. Ao longo dos últimos vinte anos, porém, os estudos sobre o comportamento humano têm revelado que a timidez, ao contrário da cor dos olhos ou dos cabelos, é uma característica passível de ser mudada. Uma criança inibida não está condenada a ser um adulto retraído. Publicada na revista americana Current Directions in Psychological Science, a mais nova pesquisa sobre o assunto dá pistas de como se podem ajudar os pequenos a vencer a inibição. A chave, segundo psicólogos da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, está no relacionamento da criança com sua mãe (sempre ela).
A mãe tem um papel essencial na timidez de seu filho - para o bem ou para o mal. Ela deve estimulá-lo a fazer amigos, mas, ao mesmo tempo, precisa entender que timidez, num grau razoável, não é doença. Só se torna um problema quando isola a criança do mundo. Criança assim não se diverte e corre o risco de, na adolescência, desenvolver transtornos psiquiátricos, como ansiedade e fobia social.
Por cinco anos, os pesquisadores de Maryland acompanharam meninos e meninas portadores de uma mutação no gene 5-HTT, que, como se sabe há uma década aumenta a tendência à timidez. A primeira avaliação foi feita quando as crianças tinham 2 anos. Quando elas foram analisadas novamente, aos 7 anos, os especialistas notaram que algumas continuavam retraídas e outras não. As mães responderam, então, a um questionário sobre como haviam lidado com a introversão de seus filhos durante esse período. "As mulheres mais solitárias e mais estressadas eram as mães das crianças com maiores dificuldades de socialização", disse a VEJA o pesquisador Nathan Fox, um dos autores do estudo e coordenador do Laboratório de Desenvolvimento Infantil da Universidade de Maryland.
Os resultados do trabalho já vinham sendo esboçados por outras pesquisas. Uma delas constatou que crianças tímidas filhas de pais superprotetores têm grande probabilidade de ser adultos retraídos. Por outro lado, os bebês matriculados numa escola nos primeiros meses de vida mostraram-se, quando crescidos, capazes de vencer a timidez com mais facilidade do que aqueles que haviam permanecido em casa com a mãe. Os sinais de que uma criança é tímida são dados ainda no berço.
"Bebês que respondem rápido a estímulos de estranhos ou a novidades, como um brinquedo que não conhecem, tendem a ser crianças mais extrovertidas", afirma a psicóloga paulista Ceres Alves de Araujo, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Os que se mostram mais ressabiados diante de uma situação nova tendem a ser mais tímidos.
Essa cena todo mundo já presenciou: diante de um desconhecido, a criança tímida esconde o rosto, agarra-se às pernas da mãe ou se esconde atrás delas. Como a mãe é o modelo de socialização do filho nos primeiros anos de vida (muito mais do que o pai), cabe a ela ajudá-lo a enfrentar situações desconfortáveis. Como se consegue isso? Agindo naturalmente. Não adianta querer que o filho introvertido vire, de uma hora para outra, a criança mais popular da escola - provavelmente, ele nunca o será. E não há nada de errado nisso.
"Exigir de uma criança o que ela não pode dar só aumenta a sua angústia e reforça o seu comportamento retraído", diz o psiquiatra infantil Francisco Assumpção Júnior, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Se seu filho não quiser ir à festa junina da escola, é importante demovê-lo da idéia. Afinal de contas, é fundamental que participe das atividades das quais os coleguinhas participam. Mas, se ele não quiser dançar a quadrilha, não o force.
Esse tipo de exposição só o deixará mais aflito e, conseqüentemente, mais tímido. "A melhor receita para ajudar uma criança a vencer a timidez é ir devagar, respeitando seus limites", diz Nathan Fox. "Aos poucos, a tendência é que ela se solte e faça mais amigos."
Da mesma forma que a timidez excessiva é prejudicial, a extroversão desmedida também não é desejável. Um pouco de timidez é sempre útil. Ela nos torna mais cautelosos, atentos ao comportamento e aos sentimentos dos outros e menos impulsivos. "Na primeira metade da vida, até por volta dos 30 anos, as pessoas extrovertidas, mais atiradas, tendem a se sair melhor", diz a psicóloga Ceres Araujo. "Na segunda metade da vida, contudo, os mais introvertidos ganham terreno. Eles tendem a ser mais tranqüilos e estáveis em seus relacionamentos afetivos."

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